domingo, 16 de agosto de 2009

Tecnologia torna criança sedentária


“O computador é bem mais legal. Tem mais opções de brincadeira”. “Eu também prefiro ficar no computador do que brincar de outra coisa”. Essas declarações foram dadas por Karoline Lopes (9) e Ana Silva (8), respectivamente, e comprovam o que há muito vem sendo discutido pelos profissionais da área da saúde. Com a evolução da tecnologia tornou-se comum crianças e adolescentes substituírem atividades que demandam gasto energético pelas brincadeiras automatizadas. Somando-se ao sedentarismo (falta de atividade física) os maus hábitos alimentares, o resultado não é nada bom. “Cerca de 15% das crianças no Brasil são obesas. A expectativa é que até 2010 existam 2,6 bilhões de pessoas obesas em todo o mundo. Ou mudamos esses maus hábitos, principalmente entre as crianças, ou teremos toda uma geração com problemas cardiológicos,de obesidade, entre outras doenças”, alerta o educador físico, Luiz Marcos Fernandes Peixoto. Mas os problemas provocados pelo sedentarismo vão além da obesidade. De acordo com uma pesquisa britânica, crianças pequenas que passam mais de duas horas por dia assistindo à televisão correm duas vezes mais risco de desenvolver asma. Os pesquisadores acompanharam mais de três mil crianças britânicas desde o nascimento até os 11 anos e meio.E o resultado - publicado na revista de medicina respiratória Thorax - foi que nenhuma criança pequena ou bebê apresentava problemas respiratórios. Aos 11 anos e meio, 185 crianças (6%) tinham desenvolvido asma. E crianças que assistiram à TV durante mais de duas horas por dia apresentaram quase o dobro de possibilidade de ter sido diagnosticadas com asma do que as que assistiam menos à televisão. Outro dado preocupante, segundo o educador físico, é que há dez anos, as crianças caminham 15 quilômetros por dia, hoje são apenas três. E uma forma de começar a reverter esse jogo é a prática da educação física escolar, onde se tem a oportunidade de desenvolver cada criança com suas particularidades respeitando sempre seu nível de maturação psicológica e física. “As pessoas acham que educação física é só jogar bola e correr, mas não é. A prática esportiva para crianças tem o papel de promover o desenvolvimento motor básico, fazer com que ela se integre, descubra e discuta sobre o mundo em que vive, entenda seu corpo e seus limites; melhore sua auto-estima, sua auto-confiança, melhore sua expressividade e em termos fisiológicos reduza as condições para o desenvolvimento de doenças crônicas ligadas ao sedentarismo”, explica o professor Luiz Marcos, que é especialista em educação física escolar.O problema é que boa parte das escolas, principalmente as públicas, não dá importância à educação física, mesmo existindo uma lei (Lei 9394/96) que determina essa prática como disciplina pedagógica nas instituições de ensino. E em algumas que desenvolve essa atividade, faz de uma forma que não estimula as crianças a gostarem da educação física.“É preciso que as crianças entendam primeiro o funcionamento do seu corpo para depois começar a entender as regras, os fundamentos dos jogos. Cada fase deve ser desenvolvida, olhando a criança como um ser em nível de descobrimento e não como um atleta profissional em que o objetivo são resultados a curto prazo. Criar oportunidades de crescimento e descoberta individual usando o esporte e a atividade física como ferramentas é o que cabe ao professor de educação física nas suas aulas”, diz Luiz Marcos.Mas essa não é uma responsabilidade apenas das escolas, a família também tem uma participação fundamental para evitar que as crianças se tornem sedentárias. Os pais devem ficar atentos com relação ao tempo que as crianças ficam no computador, no vídeo game ou de frente a televisão. Além disso, é importante que procure uma escola que incentive a prática esportiva.“Muitos pais pensam apenas na questão do saber. Procura a escola que mais aprova no vestibular e pronto, quando o ideal é um equilíbrio entre mente e corpo”, sugere Luiz Marcos Fernandes Peixoto.Escola da rede privada dá o exemploUma escola particular de Natal dá um bom exemplo de como introduzir, de forma agradável, a educação física no dia-a-dia das crianças. Desde a Educação Infantil, os alunos têm contato com atividades esportivas.“Até o 5º ano nós realizamos atividades recreativas e movimentos da cultura corporal como jogos, danças, lutas, ginásticas e conhecimento do próprio corpo. A maioria das aulas é prática, mas também temos aulas teóricas”, explica o professor Luciano Bezerra da Silva.E nessa época tecnológica, tem que ter muita criatividade para conseguir que os alunos troquem o computador pelas aulas de educação física. “Hoje as crianças tem uma menor disposição motora porque passa muito tempo com jogos eletrônicos, por exemplo. Diferente do que acontecia antigamente, quando as crianças gastavam mais energia. Tanto que boa parte dos meus alunos, entre 10 e 11 anos são sedentários e estão acima do peso”, conta Luciano. Para ele, o segredo é propor atividades que dão prazer a essas crianças. Pular corda e brincar de bambolê, por exemplo, trabalha a coordenação e a resistência física das meninas. Para os meninos, na melhor do que uma partida de futebol. “Através dessa brincadeira aparentemente descompromissada, essas crianças estão se exercitando e adquirindo conhecimentos que vão facilitar a aprendizagem em atividades mais específicas como a ginástica rítmica”, diz o professor.E parece que o esforço do professor tem dado certo. Basta passar 10 minutinhos na aula de educação física para ver que a garotada se diverte.A importância da educação físicaÉ necessário ver a prática de atividades e exercícios físicos como uma questão de saúde pública priorizando sempre a ludicidade e não a competição, especialmente quando se tratar de crianças, pois a cobrança demasiada pode fazer com que peguem aversão à prática de atividades esportivas e físicas já que na Educação Física Escolar também se pode observar o despertar de talentos individuais.“Em tese, quando está com oito anos a criança está apta para ser estimulada e desenvolver corretamente o controle de seu corpo. Antes disso, as crianças não estão preparadas física e psicologicamente para cobranças de resultado”, diz o educador físico Francisco Carlos Costa.Nesta fase não deve existir a preocupação com a competitividade do esporte. Tudo merece ser visto como uma brincadeira, levando em conta o desenvolvimento da psicomotricidade, lateralidade, coordenação motora e equilíbrio. Neste momento o esporte funciona como um fator motivador. Ele estimula a criança a correr, pular, subir, rolar e engatinhar. Dos onze anos em diante, a criança desperta o interesse pelo aspecto técnico do esporte e o trabalho com competitividade deve ser iniciado, mas de forma saudável e não pressionando a criança para vencer. “A competição vai de acordo com a visão de cada professor, mas o equilíbrio é o melhor caminho”, conta Luciano.Depois de todas estas etapas a criança está preparada para se iniciar em um esporte específico. Tudo sem exageros. Não é legal fazer várias modalidades ao mesmo tempo com o intuito de manter a criança ocupada. Mais uma vez, os pais têm que buscar o equilíbrio para a criança. O mais importante é manter o esporte como forma de ocupação e desenvolvimento da criança. Se ela vai ou não se destacar na sua modalidade só o tempo e as conseqüências podem dizer. Se os treinos não servirem para que ela alcance grandes performances, ao menos podem torná-la mais saudável física e mentalmente, e menos suscetível ao mundo das drogas, entre outros problemas sociais.


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