segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Garibaldi perde a chance de ter o primeiro voto do PT


Foi como se ele tivesse ultrapassado a linha limítrofe, o risco branco no chão que separa a turma de lá da turma de cá: com a manifestação pró-Rosalba Ciarlini (DEM), sábado (31), em entrevista a uma rádio de Assu, o senador Garibaldi Alves (PMDB) deixou pra trás milhares de petistas que, pela primeira vez, se preparavam para votar o "15" e reelegê-lo no Senado.Mas o jogo ainda não acabou - o apito final é só em julho de 2010 - e esses mesmos petistas esperam um movimento de volta do peemedebista que, formalmente, pertence à base aliada do presidente Lula. O senador vem pulando em Brasília de um lado para o outro conforme as vantagens do momento; aqui, nunca escondeu a simpatia pela oposição. Os militantes do PT, salvo algumas exceções, garantem que, caso o senador vá para o lado do PSB da governadora Wilma de Faria (PSB) e faça campanha para a ministra Dilma Rousseff à presidência da República - como quer o presidente estadual do PMDB, deputado federal Henrique Alves -, os cerca de 200 mil votos do PT serão dele. Nas próximas eleições, que prometem ser bastante acirradas, esse número pode ser decisivo. Em 2006, Garibaldi perdeu as eleições para a governadora Wilma de Faria (PSB) por 74.829 votos - menos da metade do eleitorado do PT. Os candidatos ao Senado do PT em 2002, Hugo Manso e Marcelo de Souza, tiveram juntos 336.349 eleitores. O Rio Grande do Norte tem pouco mais de dois milhões de eleitores."Só quero isso, quero votar em Rosalba", foram as palavras de Garibaldi à rádio assuense. Os petistas poderiam inverter a frase: "Só queremos isso, que o senhor não vote em Rosalba".Rosalba Ciarlini é do DEM, primo-irmão do PSDB. Os dois partidos são oposicionistas históricos do PT e demais partidos de esquerda. "DEM e PT são como água e óleo, não se misturam jamais", disse certa vez a deputada federal Fátima Bezerra (PT).Por isso, e pelo fato de Garibaldi Alves estar historicamente associado a esses dois partidos - ele deu suporte ao então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) quando era governador do Estado (1994 - 2002) e depois tentou voltar ao governo, em 2006, pelas mãos do DEM - o PT nunca votou no peemedebista. Aliás, até votou, mas não formalmente, e há muitos anos. Em 1985, na primeira eleição para prefeito, no calor da pós-ditadura, alguns militantes de esquerda decidiram elegê-lo, mas o apoio não foi formal. Por outro lado, alguns do PMDB votaram em Lula em 1998 (o apoio não foi formal) e em 2006 Henrique declarou apoio à reeleição do presidente, enquanto Garibaldi preferiu fazer campanha com o DEM. A divergência por que passam agora os primos começou daí. Garibaldi votou pela primeira vez no PT local nas eleições do ano passado.

Visivelmente desconcertado, ao lado da ex-adversária Wilma de Faria (PSB), ele tentou se aproximar dos militantes de esquerda quando anunciou apoio à candidata Fátima Bezerra. "Vocês têm que parar com essa coisa de não votar em mim. Sou feio, mas sou simpático", disse, arrancando gargalhadas. Agora, é tudo o que os petistas querem. "Eu continuo achando que é possível o PMDB marchar unido conosco no plano local. Pessoalmente, gostaria de defender o voto dele para o Senado. Ainda não está batido o martelo", torce Fátima Bezerra, que é do Movimento PT, uma corrente de centro da legenda (O PT local é dividido em várias correntes que obedecem à mesma divisão das correntes nacionais).O deputado estadual Fernando Mineiro, apesar de participar da corrente mais à direita do PT, a Construindo um Novo Brasil (a mesma do presidente Lula), está menos otimista. "Em 2008 ele fez o papel dele. Agora, não tem esse negócio de (a manifestação pró-Rosalba) afastar, porque não existe aproximação. Nacionalmente ele é dúbio. Localmente, está identificado com a oposição". Mesmo assim, ele ainda considera a possibilidade de votar no senador. "A militância do PT tem o entendimento das necessidades de se fazer aliança, e em 2010 prepondera a disputa nacional".Essa é a chave que ganha o voto e o coração dos petistas: a questão nacional. Os líderes não fazem segredo de que estão dispostos a tudo para eleger presidente a ministra Dilma Rousseff que, aliás, já tem um pré-acordo firmado com o PMDB que inclui a indicação do presidente da Câmara Federal, Michel Temer, como vice na chapa. "Se a gente caminhar junto com o presidente Lula a nível nacional, o PT está com a gente", conclui, acertadamente, o filho de Garibaldi Alves, deputado Walter Alves (PMDB).O raciocínio também faz sentido no movimento inverso. "Voto em qualquer pessoa que o partido indique - não sendo do PSDB ou do DEM - que vá derrubar José Agripino", disse um militante da mesma corrente de Fátima Bezerra. Para ele, a meta de fazer o sucessor do presidente Lula se sobrepõe às diferenças estaduais. "Naquele tempo (em que o PT fazia oposição ao PMDB), não havia um governo federal de esquerda, por isso preponderavam as questões locais". Ele não só votaria em Garibaldi, como garante que "80 a 90%" dos militantes fariam o mesmo caso ele apóie Dilma Rousseff. "Votaria, sim. A gente disputa projeto político. Se ele estiver junto com a base aliada, o PT não vai pensar duas vezes", garante outro militante do Movimento PT.Para o senador, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. "Não podemos levar divergências do plano estadual para o plano federal. Até gostaria muito de ter o presidente Lula recomendando o meu nome. Acontece que no estado eu não tenho como fazer dobradinha com a governadora Wilma de Faria", tentou justificar Garibaldi Alves na entrevista à rádio assuense, fazendo referência à campanha de 2006.Há ainda aqueles em que o voto depende de questões alheias a alianças . "Vou seguir as decisões do meu partido. Agora, se o senador votar contra as 40h, a gente parte pro debate", avisa um sindicalista da Tendência Marxista. O projeto de lei que reduz a carga horária de 48 para 40h semanais está tramitando na Câmara Federal e deve chegar ao Senado no início de 2010."Se ele vier apoiar Dilma como apoiou Fátima, pode continuar abraçado com Rosalba", brinca o ex-vereador Fernando Lucena, fazendo referência ao desempenho do senador na campanha de 2008, considerado pífio por alguns. "Não voto nele de jeito nenhum, porque é mais de direita que José Agripino. Esse pelo menos tem uma posição decente, porque assume. Garibaldi não tem nada a ver com a gente". Fernando Lucena não faz parte de nenhuma corrente nacional e está tentando construir um grupo próprio aqui no estado.Para um dos dirigentes do PT Natal, Adriano Gadelha, se colocar ao lado de José Agripino significa ganhar militantes do contra. "A raiva vai aflorar e aqueles simpatizantes mais convictos vão trabalhar para que ninguém vote nele."
Uma minoriaCerca de 15 a 20% -, não consegue esquecer a história de Garibaldi. "Meu pensamento é que, mesmo que o PT defina o apoio, não é fácil convencer a base como foi difícil para ele convencer o eleitorado conservador dele a votar em Fátima. ", diz alguém que era da Tendência Marxista, mas agora não segue correntes. Ele não vai votar em Garibaldi e muito menos em Iberê Ferreira (PSB) para o governo. "Eles representam algo que deveria ser superado. Eu acho que o fato de considerá-lo conservador seja um consenso. Mas, em nome de um 'projeto maior', muitos topam uma aliança dessas". "Conservador", "dúbio" e "incógnita" e "contraditório", foram as palavras mais usadas pelos petistas para definir o senador. Elas perdem força, no entanto, quando entra em cena a eleição de Dilma Rousseff. "O PT não vota em pessoas, mas em projetos, e o PT do RN já mostrou lealdade a projetos políticos quando apoiou Wilma de Faria em 2002 e 2006", diz o presidente estadual da legenda, Geraldo Pinto. Até então, o PT era forte opositor de Wilma de Faria. "Se alguém tem um projeto, e o PT concordar, sabe mover sua militância nesse caminho".A contragosto, e sem nomes fortes para defender para o Senado, o PT espera. "A decisão está nos ombros de Garibaldi", resume Adriano Gadelha.
Fonte:http://www.nominuto.com/

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