sábado, 12 de dezembro de 2009

Ação predatória intensifica a desertificação

Nesta edição, o jornal Nasemana continua com a série de três reportagens especiais, sobre o problema da desertificação na região do Seridó. Nesta segunda reportagem, vamos abordar as consequências ambientais, sociais e econômicas do grave processo de desertificação por que passa a região do Seridó, onde se concentra a gravidade do problema.A maior parte da população da zona rural da região do Seridó é caracterizada pelo ruralismo tradicional, com pouco ou nenhum acesso ao mercado, extrema dificuldade de absorção de novas tecnologias, hábitos fixados através de gerações e uma relação extremamente paternalista com o Estado. De acordo com o professor e pesquisador da desertificação no semiárido, Getson Luis Dantas de Medeiros, Mestre em Desertificação do Semiárido pela UERN - Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, essa relação reflete numa constante busca por "proteção" junto ao aparelho estatal e aos seus representantes e, de outro lado, por uma recorrente dificuldade em absorver as informações técnicas disponíveis geradas pelo próprio aparelho estatal, para a solução de seus problemas. Pode-se acrescentar que essa dinâmica reflete problemas de ordem estrutural com fortes reflexos ambientais. "Quando as oportunidades de renda e de acesso ao mercado são limitadas, há uma tendência à exploração dos recursos naturais como medida compensatória, com efeitos de médio prazo sobre a qualidade ambiental e sobre as possibilidades de manter a população fixada na região", explica Getson. Atualmente, pode-se destacar como atividades que se sobressaem na região, a policultura de subsistência, a pecuária extensiva e alguns polos de agricultura irrigada. Porém, essas atividades consideradas tradicionais vêm sofrendo ao longo dos anos, constantes perdas em sua produção em função das adversidades climáticas, além de passar por problemas decorrentes da perda de produtividade dos solos e, consequentemente, da competitividade nos mercados. A maior parte dessas áreas irrigadas apresenta sinais de salinização, fruto da falta de investimentos em sistemas de drenagem. De acordo com a pesquisa do professor Getson Luis, essa falta de investimentos por parte dos governos, também tem acelerado o processo de desertificação no Seridó, que já abrange uma área de 4.271,9 km2. Nessa área, que corresponde aos municípios de Equador, Parelhas, Carnaúba dos Dantas, Caicó, São José do Seridó, Cruzeta, Acari e Currais Novos, estima-se que mais de 152 mil pessoas já enfrentam algum tipo de problema relacionado com a desertificação. ConsequênciasA atividade de ceramista é considerada pela maioria dos especialistas como a atividade que mais contribui com o processo de degradação da região do Seridó. Esta afirmativa justifica-se pelo fato de que a mesma degrada em duas frentes: na utilização da lenha nativa como matriz energética e na utilização dos solos aluviais para a confecção de artefatos cerâmicos."Durante o ano de 2000, só a atividade ceramista consumiu cerca de 106.500 m3 de lenha por mês e cerca de 174.000 ton de argila. Todo esse consumo tem causado sérios danos, tanto à vegetação quanto aos solos das regiões em processo de desertificação. Contribuindo, principalmente, para o aumento do espaçamento entre a vegetação, o que acreditamos que venha a contribuir futuramente para o aumento das temperaturas médias que já são bastante elevadas aqui na região", afirma o professor e pesquisador.Ainda segundo a pesquisa de Getson, as causas da desertificação no Seridó estão ligadas, além dos indicadores ou agentes naturais como clima, solo, relevo, entre outros, a fatores ou indicadores antrópicos, que são aqueles que utilizam os recursos naturais da região. Atividades como mineração e garimpos; cerâmicas e olarias; carvoarias; desmatamento indiscriminado, principalmente para o abastecimento de fábricas e indústrias, como padarias e panificadoras; pedreiras e caieiras, e agricultura com técnicas rudimentares, também podem ser facilmente identificados na região do Seridó, como contribuintes para o agravamento do processo de desertificação, conclui Getson Luis.
Fonte:http://www.nominuto.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário