sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O populismo fracassado que resiste na América Latina


O mundo assistiu à queda do Muro de Berlim há 20 anos. As revoluções socialistas e marxistas já fazem parte do século passado e a bipolaridade entre os EUA e a URSS já não domina mais as relações políticas mundiais. Mas por que a América Latina insiste em ressuscitar chefes de estado populistas empenhados em aplicar as mesmas políticas fracassadas do passado? Por que continuamos presos a uma visão marxista da sociedade e a uma mentalidade da Guerra Fria que separa o Norte do Sul, projetando uma luta de classes entre os ricos e os pobres para o terreno étnico e social? Enfim, o que está ocorrendo com a nossa democracia?
Aprendi desde cedo que a precondição necessária de todo governo democrático é a proteção às liberdades civis. No entanto, mesmo para uma definição mínima de democracia, não bastam nem a atribuição a um elevado número de cidadãos do direito de participar da tomada de decisões coletivas, nem a existência de procedimento eleitoral para caracterizar um sistema democrático. É indispensável uma terceira condição: é preciso que aqueles que são chamados a decidir sejam colocados diante de alternativas reais de liberdade de expressão e postos em condição de poder exigir o respeito ao cumprimento das leis e aos princípios democráticos.
E o populismo ignora justamente isso, pregando uma democracia fajuta que não leva em conta os direitos individuais. A América Latina é um exemplo inequívoco de que o populismo econômico e político resistem mesmo diante dos mais contundentes fracassos. Imprensa acuada, Judiciário cooptado, opositores exilados, economia estatizada, Legislativo domesticado, educação ideologizante e liberdade amordaçada são as marcas contundentes de uma América Latina cercada de governantes interessados no “socialismo do século XXI”. E o que mais impressiona são os formadores de opinião prontos a lhes dar credibilidade e simpatizantes ansiosos por conceder vida nova a ideias que pareciam extintas.
Aliás, por que ninguém questiona que a entrada da Venezuela no Mercosul significa ratificar os projetos autoritários do coronel Chávez, além simbolizar uma ameaça à estabilidade da América Latina com o financiamento e o apoio a grupos radicais de países vizinhos, a formação de uma milícia civil e a aliança com a ditadura cubana de Fidel Castro?
Mas uma evidência me deixa muito otimista: por causa da inexorável passagem do tempo, a atual geração de jovens não está mais interessada em trocar os bons costumes da democracia por regimes que agridem as liberdades constitucionais. A atual juventude representa o pós-muro de Berlim, pós-Guerra Fria, pós-ditadura militar. Não almejam burlar as regras do jogo, muito menos pensar em fazer revoluções estudantis com anarquia e greves desnecessárias. Não desejam mudar o mundo com rupturas e transgressões morais e diplomáticas, pois se hoje temos liberdade para tratar de qualquer assunto em uma imprensa livre, é porque nascemos sob a proteção daqueles que justamente lutaram pela liberdade.
Será possível que os jovens idealistas e adultos engajados devam renunciar-se à sua liberdade e voluntariamente entregar-se à vontade de um governo onipotente? Que devam procurar a alegria num sistema no qual sua única tarefa será a de servir como uma peça a mais numa grande máquina projetada e manipulada por um planejador todo-poderoso? Não sei se estamos anestesiados, ou se nada nos interessa. O fato é que há um novo fenômeno político na América Latina pronto para pisotear as liberdades individuais e a democracia representativa.
Por Murilo Medeiros

Nenhum comentário:

Postar um comentário