terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Arruda ameaça e DEM desiste de ‘expulsão sumária’




_Ao final de uma reunião tensa com integrantes da cúpula do DEM, José Roberto Arruda lançou no ar uma frase enigmática:

“Se o partido radicalizar comigo, vou radicalizar também”, disse o governador do Distrito Federal, em timbre de ameaça.

Ficou boiando na atmosfera a impressão de que Arruda dispõe de munição. Pior: Levado ao pelourinho, não hesitaria em abrir o paiol.

A conversa com os mandachuvas do DEM consumiu duas horas da tarde desta segunda (30).

Deu-se em Águas Claras, a residência oficial do governador do DF. O encontro foi tenso. Começou com as explicações de Arruda.

Na essência, expôs aos companheiros de partido o mesmo trololó que repetiria depois aos repórteres.

Desqualificou Durval Barbosa, o ex-secretário que se converteu em delator junto ao Ministério Público.

Reconheceu o recebimento de verbas. Disse que a coisa fora contabilizada. Não convenceu.

Coube a Demóstenes Torres (GO) eletrificar o ambiente. Primeiro, o senador soprou.

Disse a Arruda que ele tem “grande chance” de safar-se das acusações de corrupção no âmbito judicial.

Elogiou a competência dos advogados do governador –José Eduardo Alckmin e Flávio Cury—, presentes à conversa.

Depois, Demóstenes mordeu. Afirmou que, no âmbito partidário, Arruda está sujeito aos rigores do estatuto do DEM. Prevê, para transgressões graves, a expulsão sumária. Demóstenes soou duro:

“Vou votar pela expulsão sumária. Me perdoe a franqueza. Mas, daqui a pouco, vou dizer isso lá fora e você pode se sentir traído. Então, prefiro dizer agora”.

Fez-se, por alguns segundos, um silêncio de cemitério. O senador Heráclito Fortes (PI), que se reunira com Arruda na noite da véspera, interveio.

Na contramão de Demóstenes, sugeriu que o partido se limitasse a nomear uma “comissão de alto nível” para acompanhar as investigações abertas contra Arruda.

O deputado ACM Neto (DEM-BA) saiu-se com uma fórmula intermediária. Propôs a abertura de um processo disciplinar. Coisa que poderia resultar em mera advertência, suspensão ou, no limite, a expulsão do partido.

E Demóstenes: “Já que minha opinião é divergente, mantendo a posição”. Foi socorrido pelos líderes do partido no Congresso. Ronaldo Caiado (DEM-GO), líder na Câmara, disse que votaria na mesma linha de Demóstenes.

José Agripino (DEM-RN), líder no Senado, informou que também pendia para a expulsão sumária. Sobrevieram as vozes de Rodrigo Maia (RJ), presidente do DEM, de Alberto Fraga (DF), deputado licenciado e secretário de Arruda, e do senador Adelmir Santa (DF).

Realçaram a conveniência de o partido facultar a Arruda o direito de defesa. Algo que seria tolhido na hipótese de ser adotado o rito sumário.

Um dos advogados do governador disse que, privando Arruda de exercitar a sua defesa, o partido incorreria em método próprio da Inquisição.

Demóstenes não se deu por achado. Promotor licenciado, o senador faz uma analogia entre o procedimento político e uma ferramenta judicial.

Compara a expulsão sumária a uma “medida cautelar” à qual costumam recorrer os juízes para afastar preventivamente dos cargos gestores públicos sob suspeição.

Para Demóstenes, a expulsão a toque de caixa não privaria Arruda do direito de defesa, que seria exercido a posteriori.

Convencendo-se da inocência de Arruda, o partido poderia reinseri-lo em seus quadros.

Arruda cobrou “solidariedade” do partido. A mesma compreensão que o DEM dispensara a ACM no caso da violação do painel secreto do Senado.

Lembrou que, no escândalo de 2000, o PSDB, seu partido na época, o abandonara. Mas o DEM, então PFL, apoiara ACM.

Já na fase das despedidas, Arruda saiu-se com a frase incômoda. Vale a pena repetir: “Se o partido radicalizar comigo, vou radicalizar também”.

Da residência de Águas Claras, os ‘demos’ rumaram para o apartamento de Agripino. Já haviam se reunido ali antes da conversa com Arruda.

Reproduziu-se o dissenso. Um pedaço do partido, Demóstenes à frente, apegado à tática do mata-e-esfola.

Outro naco agarrado à fórmula ACM Neto: abertura de processo, apresentação da defesa e, só então, o julgamento.

Divididos, os ‘demos’ foram ao apartamento do deputado Paulo Bornhausen (SC). Ali, aguardava-os o pai do anfitrião, Jorge Bornhausen.

Incorporaram-se ao grupo outros ‘demos’ ilustres. Entre eles o senador Marco Maciel (PE). Somaram-se à corrente que defendia a abertura de processo.

A decisão do DEM será anunciada até o final do dia. De madrugada, caminhava-se para a abertura do processo.

O ritmo não terá a rapidez desejada por Demóstenes. Mas pretende-se cuidar para que também seja tão lento.

Premido pela força das evidências que emparedaram Arruda, o DEM espera resolver a encrenca em 15 dias.

Uma semana para a apresentação da defesa do governador. Mais uma semana para análise de um relator a ser nomeado por Rodrigo Maia.

Em seguida, o processo será submetido à deliberação da Executiva nacional do partido.

Torça-se para que Arruda sinta-se desamparado. A essa altura, a prometida radicalização do governador interessa vivamente à platéia.



Sob holofotes, José Roberto Arruda disse que os recursos que recebera de seu delator Durval Barbosa “foram regularmente registrados ou contabilizados”.

Deu a entender que, a exemplo de “todos os demais itens da campanha eleitoral”, os mimos de seu ex-secretário foram aos arquivos do TRE do DF. Meia-verdade.

Minutos antes de ler o comunicado aos jornalistas, o governador do Distrito Federal reunira-se com a cúpula do seu partido, o DEM.

Entre quatro paredes, Arruda expusera os argumentos que divulgaria a seguir. Segundo apurou o blog, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) perguntou:

“Quando você declarou esses recursos à Justiça Eleitoral, foi na época do recebimento?” E Arruda: “Não, foi no início desse ano”.

Num dos inúmeros vídeos que infestam a web e as tevês de imagens vadias, Arruda aparece recolhendo das mãos de Durval um maço de notas (R$ 50 mil).

A cena é de agosto de 2006. Arruda era candidato ao governo do DF. Durval, seu benfeitor, presidia a Codeplan, uma estatal do GDF.

No comunicado que leu aos repórteres nesta segunda (30), Arruda esclareceu que a mordida de 2006 não foi a única.

Sem especificar cifras, falou de “recursos eventualmente recebidos por nós do denunciante, para ações sociais, nos anos de 2004, 2005 e 2006”.

Ou seja, a comunicação à Justiça Federal se deu com atraso de até cinco anos. Considerando-se os recebimentos de 2006, a demora foi de três anos.

Na reunião com os companheiros de partido e no contato com a imprensa, Arruda se fez acompanhar dos advogados José Eduardo Alckmin e Flávio Cury.

Na reunião fechada com os morubixabas da tribo ‘demo’, um dos doutores, José Alckmin, esclarecera o seguinte:

O comunicado temporão que Arruda enviara à Justiça Federal já havia sido analisado e devidamente arquivado. Ficou claro para os presentes:

1. Arruda sabia que Durval, até a última sexta-feira (27) seu secretário de Assuntos Institucionais, dispunha de um lote de vídeos comprometedores.

2. Sabia que as imagens poderiam vazar a qualquer momento.

3. Precavendo-se contra o escândalo que esperava para acontecer, levou ao TRE os registros monetários fora de época.

Resta saber agora se o TRE não se animará a reexaminar os dados depois que veio à luz a profusão de evidências que apontam para a origem ilícita das verbas.

Supõe-se, de resto, que o Ministério Público, condutor da investigação contra Arruda e Cia., vá requerer ao TRE os registros inusuais da verba dos panetone$.

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