terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Wilma prevê derrota ou tem acordo com Táta?

Aos olhos de muitos observadores e atores da cena política potiguar a governadora Wilma de Faria emitiu no último final de semana um sinal inequívoco de que suas contas a levam a acreditar que numa eleição plebiscitária seu candidato ao governo do Estado perderá para a senadora Rosalba Ciarlini (Dem). Quando lançou um repto para que terceiros se lançassem a um projeto alternativo, ela demonstrou que se não aparecer quem produza uma nova divisão para o bolo das intenções de votos Rosalba levará a melhor logo no primeiro turno.
Não se pode prever é se o desafio encontrará quem o aceite, e se quem o fizer agirá com o objetivo de apenas coadjuvar as atuações de Rosalba e do candidato de Wilma, o vice-governador Iberê Ferreira de Souza. A história de candidaturas majoritárias no Rio Grande do Norte é rica em personagens pinçados para a derrota que arrancaram a azeitona da empada alheia.
Em 1.974, o PMDB recorreu ao então ex-vereador e ex-deputado Agenor Maria para que liderasse o partido em busca de votos proporcionais, visto que não teria a mínima chance de se eleger senador. Diz-se até hoje que, se pudesse prever a vitória do candidato da legenda, a família Alves, que comanda o PMDB no Rio Grande do Norte desde 1.969, teria candidatado alguém com seu sobrenome, nunca Agenor.
Em 1.992, quando o atual deputado estadual Ezequiel Ferreira (PTB) e o economista e agropecuarista José Bezerra de Araújo Júnior, o "Ximbica", atual suplente de senador pelo Dem, disputavam a prefeitura de Currais Novos, um dos dois grupos que os apoiavam achou que só dividindo os votos do adversário conseguiria chegar à posse, e manobrou no sentido do lançamento do nome do dentista Gilberto Lins como "tertius", financiando mesmo todos os seus gastos. O que ocorreu, todo mundo sabe: nem Ximbica nem Ezequielzinho foram à posse de Gilberto.
Quanto ao pleito estadual, o repto de Wilma é confissão de que, mantidas as condições atuais de temperatura e pressão, seu grupo perderá a eleição majoritário. Iberê, pessoalmente, perderá um pouco, porque não conquistará o mandato de quatro anos que almeja. Mas terá chefiado o executivo potiguar durante os nove meses de desincompatibilização de Wilma, fazendo campanha com a caneta e a chave do cofre governamentais.
O medo que assomou em Wilma é o de uma derrota anunciada de seu candidato ao governo induzir o insucesso eleitoral que ela não deseja protagonizar como candidata a senador. Pois a perspectiva de Rosalba se eleger logo baliza no sentido de levar consigo as reeleições dos senadores Garibaldi Alves Filho (PMDB) e José Agripino Maia (Dem), com todo um rosário de conseqüências nefastas para o vilmismo.
Este quadro fez Wilma tentar acicatar os deputados federal João Maia e estadual Robinson Faria, presidentes regionais do PR e do PMN, respectivamente, o advogado, ex-prefeito e ex-deputado Carlos Eduardo Alves, que comanda o PDT no Rio Grande do Norte, e talvez até o comando regional do PT, ao dizer que nesta unidade federativa falta quem tenha coragem de liderar uma terceira via na sua sucessão.
Wilma tem cacife para lançar o repto e falar em coragem. Ela se fez terceira via em 2.003, quando todas as previsões divulgadas a mostravam sem chance alguma de chegar ao Palácio Potengí, e se propõe como terceira via, de certa forma, ao se imiscuir numa disputa que muita gente já imaginou ser jogo de cartas marcadas para a recondução de Garibaldi Filho e José Agripino.
Falta-lhe, no entanto, capacidade de cobrar a quem quer que seja a mesma coragem exatamente pelo que sonegou aos aliados durante o período em que comandou o Estado. Examinando bem, ressalvados alguns espasmos, a atuação de Wilma à frente do Palácio Potengí foi uma constante tentativa de afastar aliados. Carlos Eduardo, em muitos momentos, João Maia e Robinson Faria são resultantes desta desagregação. Por que um deles faria agora um sacrifício qualquer objetivando beneficiar Wilma?
Em 1.962, o Rio Grande do Norte assistiu a uma demonstração de altruísmo como a que Wilma vislumbrou agora. Foi o lançamento da candidatura do então prefeito Djalma Maranhão, a senador da República, sem a menor chance de chegar à diplomação. Graças a este gesto, Djalma garantiu a volta do então ex-governador e ex-senador Dinarte Mariz ao Senado em que Wilma espera desembarcar em janeiro de 2.011. Acontece que, apesar de afastamentos episódios, Djalma e Dinarte sempre foram amigos de fato. Quando a perseguição e o ostracismo atingiram Djalma, na raiz do golpe militar de 1.964, Dinarte, um dos principais porta-vozes civis do movimento, deu um jeito para de certa forma proteger familiares do amigo. Quando Djalma faleceu, em Montevidéu, Dinarte moveu montanhas para que os militares autorizassem seu sepultamento em Natal.
Terá sido de amizade, reciprocidade e de correção o tratamento que Wilma concedeu a quem ela desejaria que agora sacrificassem projetos pessoais em benefício de um que ordinariamente só contemplaria os interesses dela?
Os dois deputados nem mais são parceiros na viúva Porcina que foi a "Unidade Potiguar". Segundo consta, a conversa que mantiveram neste domingo, na residência de Robinson, foi só para sepultar o cadáver do pacto com que Wilma tentou monitorar a atração dos dois no cais de Iberê, algo só garantido hoje em relação a João, enquanto Robinson deixa seu nome vagar rumo à candidatura a vice-governador em chapa oposicionista.
João Maia e Robinson podem tentar a reeleição, o segundo armando-se ainda, também, para garantir a do filho Fábio à Câmara Federal. Partir para uma terceira força desarmada, sem um financiamento semelhante ao que bafejou Gilberto Lins em Currais Novos, seria suicídio.
Pode ser, entretanto, que Wilma não tenha tentado desafiar os dois parlamentares, preferindo mesmo que nem tentem fazer decolar suas candidaturas majoritárias. Ela pode ter escrito apenas para um destinatário, e neste caso a reação que Carlos Eduardo esboçou há poucos dias contra uma tentativa de convergência rumo ao palanque de Iberê pode até sugerir uma cristianização prévia deste pela Governadora.
Ninguém pode descartar a hipótese de ela já estar marchando para a reconstrução de um pacto que celebrou com Carlos Eduardo em 2.002.
De fato, a chance de protagonizar uma viagem como esta só parece povoar os sonhos de Carlos Eduardo, cujo pai, o jornalista, ex-prefeito e ex-senador Agnelo Alves, prevê seu desembarque no Palácio Potengí exatamente se houver segundo turno na sucessão estadual de 2.010. No caso, ele disputaria na segunda época com Rosalba, presumindo-se a queda de Iberê logo no início de outubro, ou sua substituição por "Táta" como candidato de Wilma logo muito mais cedo. Ele e Wilma repetiriam então o par que montaram há sete anos. Numa época em que ninguém mais queria estar ao lado de Wilma, Carlos Eduardo rompeu com sua família para sucedê-la na prefeitura de Natal e catapultar as chances com que ela contava para desembarcar no Palácio Potengí.
Fonte:http://www.nominuto.com/blog/roberto-guedes/

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